sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A ATUAL POBREZA ESSENCIAL HUMANA

Em minhas andanças procuro sempre escutar os comentários de grupos ou de pessoas, e, ultimamente, ou melhor, normalmente, as conversas giram em torno de alguns assuntos corriqueiros e que parecem ser regra nas rodas de bate papo, tais como: violência, pobreza, poluição, corrupção, impunidade, desemprego, baixos salários, entre outros.
Nestes debates criticam outras pessoas e instituições como se elas estivessem acima do bem ou do mal, isentas da coerção que é naturalmente impostas a todos que vivem em uma sociedade capitalista, hipócrita, superficial, oca e desigual como a nossa. Quero destrinchar este tema com cuidado, pois também faço parte desta mesma sociedade e como todos, também sofro com suas algemas.
Certa vez li uma matéria em uma revista que dizia que um viajante holandês se surpreendeu com o conteúdo das conversas em bares e restaurantes visitados por ele aqui no Brasil. Este holandês revelou que por aqui éramos muito mais politizados que seus compatriotas, pois em sua terra natal as pessoas se reuniam para discutir ou debater sobre assuntos de menos importância, por exemplo, falar mal do vizinho. Bem, será que somos tão politizados assim ou as administrações públicas são tão ruins que acabam ficando em evidência frequente? Sinceramente acredito na segunda hipótese e talvez os holandeses, compatriotas deste viajante, não tenham tanta necessidade de discutir assuntos como esse, porque em seu país a corrupção não esteja instalada e enraizada na alma e na essência de sua sociedade.
Mas voltando aos nossos críticos de botequim, é muito fácil subir em um pedestal e se entender como uma peça fora do jogo e simplesmente não se achar parte desta sociedade corrompida e corruptível. Será que algum desses críticos já se perguntou sobre seu papel sócio-político e o que ele faz para mudar todo este quadro? Acredito infelizmente que não. Criticamos tudo e todos, nossos parentes, vizinhos, políticos, instituições, qualquer coisa, até pelo fato de que aquele que critica deixa transparecer que é muito bem informado, que é militante de alguma causa e que participa ativamente de movimentos que buscam mudanças reais.
O mesmo que se lança contra a violência nessas rodas de conversas, em muitas vezes regadas a bebidas alcoólicas, dirigi seu veículo embriagado e causa graves acidentes ou ao ser pego bêbado por um policial, tenta suborná-lo. Tantos outros falam sobre preservação ambiental, mas furtam energia, desperdiçam água, não se preocupam com a condição miserável e sobre-humana de vida de seus irmãos, que para não morrerem de fome degradam o meio ambiente. E ainda existem alguns que reclamam que pagam seus impostos e não podem se quer sair casa com seus caros veículos, jóias e pertences importados sem correrem o risco de serem assaltados. Queridos críticos, a violência, a falta de segurança, os crimes hediondos e todas as mazelas que ocorrem em nosso país são provocadas pela desigualdade, pela miséria, pela concentração de renda e de terra, cada centavo que vocês acumulam a mais e sem necessidade gera fome, violência e morte.
Certa vez um professor que tive na faculdade comentou sobre valores morais universais humanos independentes de qualquer tipo de influencia cultural, eram elas: justiça, o respeito aos mais velhos e as crianças, luta contra a violência, entre outros, aos quais ele chamou de ética humana.
Se não respeitamos princípios como esses, não podemos nos entender como humanos, e infelizmente a tendência é que nossas relações se tornem cada vez mais cruéis e superficiais.
Sempre que você pensar em criticar alguém ou alguma coisa, pense e se pergunte será que sou diferente desta pessoa? O que faço para mudar isso? Será que sou engajado? Todos os dias tento responder a estas questões.
É triste se entender como parte de uma sociedade vazia, oca e essencialmente cruel, não estou me isentando desta classificação, pois faço parte dessa mesma sociedade, mas tento me livrar constantemente desta influencia, sei que é difícil, mas deve ser exercitada diariamente.